O secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Teixeira Cândido, defendeu, este sábado, em Luanda, a necessidade de um maior diálogo entre as instituições do Estado e os profissionais da classe para a melhoria da liberdade de imprensa no país.
Teixeira Cândido fez estes pronunciamentos depois da realização de uma marcha de protesto contra os assaltos à sede do SJA e às residências de alguns jornalistas por indivíduos até agora desconhecidos.
Acentuou que o Sindicato entende que há a necessidade de dialogar sempre com as instituições do Estado, por ser parte dela, "uma vez que idealizamos uma democracia à altura dos melhores exemplos”. Considerou que o Sindicato é um grupo de pressão com a função de exigir, mas também de sugerir, sendo essa "a nossa identidade hoje e amanhã”. Teixeira Cândido acrescentou que o SJA tem propostas que visa a melhoria da liberdade de imprensa, quer ao nível da legislação como da actuação dos poderes públicos.
Jornalistas de vários órgãos de Comunicação Social juntaram-se, ontem, numa marcha que visou repudiar as ameaças verificadas no exercício da profissão.
A marcha partiu do Largo do Soweto e terminou na zona da Macambira, na Vila Alice. Durante o trajecto, escoltados pela Polícia Nacional, os profissionais exibiam cartazes com os dizeres: "Quem tem medo da liberdade?”, "Viva o jornalismo livre”, "Somos jornalistas e não criminosos”, entre outros dizeres.
Teixeira Cândido disse que os jornalistas saíram à rua por se sentirem ameaçados no exercício da sua actividade, uma vez que em menos de um ano, três profissionais da classe viram as suas residências assaltadas e roubados os computadores, assim como a sua sede nacional, onde roubaram o computador no qual está armazenado a base de dados dos filiados.
Segundo Teixeira Cândido, a sede do SJA da Lunda-Norte também foi assaltada e roubado o computador, considerando isso, como um ataque à liberdade de imprensa.
O SJA apela às autoridades competentes a usarem todos os meios à disposição para esclarecer os assaltos, considerados muito graves, reforçou. Para o secretário do SJA, não há memória de situação idêntica na história do jornalismo angolano, considerando a liberdade de imprensa como pressuposto da existência do jornalismo e do jornalista, uma vez que sem liberdade, não existe jornalismo.
Reacção dos participantes
O jornalista Ismael Mateus valorizou a marcha uma vez que o mais importante é o que o Sindicato dos Jornalistas Angolanos passou para a sociedade, que é o sinal de contestação à tentativa de intimidação dos profissionais.
Aos novos jornalistas que agora ingressam na profissão, Ismael Mateus pediu para integrarem o Sindicato no sentido de verem defendidos os seus direitos.
A presidente da Comissão da Carteira e Ética, Luísa Rogério, manifestou-se satisfeita com a realização da marcha observando ser um dia emotivo que pode ser considerado como o dia do jornalismo angolano.
Luísa Rogério deu nota positiva ao facto do Presidente da República, João Lourenço, ter dado, sexta-feira, uma entrevista à Voz da América, manifestando solidariedade para com a marcha dos jornalistas angolanos.
"O Presidente da República mostrou que ser Chefe de Estado e Titular do Poder Executivo é adoptar uma postura que vai ao encontro plasmado na Constituição que pode fazer toda a diferença. Sendo assim, queremos que se apurem os crimes cometidos contra jornalistas”, disse Luísa Rogério, acrescentando que quando é o próprio Presidente a pronunciar-se sobre a marcha, pode dizer-se que existem premissas para se poder discutir as ameaças cometidas contra jornalistas noutras perspectivas. Luísa Rogério sublinhou que as liberdades não são reguladas nem negociadas, pelo que o sindicato deve primar pelo direito à informação, a liberdade de expressão, de imprensa e por um jornalismo que dignifique a classe.
Por seu turno, o presidente do Movimento de Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira, considerou louvável a caminhada, por ser a primeira vez que os jornalistas se unem em torno de um determinado objectivo.
O presidente do MEA defendeu um jornalismo independente, sem coação nem tortura psicológica.
Marcha a favor da liberdade de expressão decorreu em várias províncias
Um grupo de 25 jornalistas saiu, ontem, às ruas do Lubango, para protestar contra os ataques à liberdade de imprensa. A marcha de repúdio, convocada pelo Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), fez um percurso de cerca de três quilómetros.
Os jornalistas declaram palavras de ordem como "o nosso partido é o jornalismo”, "quem tem medo da liberdade que apareça”, "abaixo os ataques a jornalistas”, entre outras.
A marcha contou com o asseguramento da Polícia Nacional, que fez um cordão de segurança durante todo o trajecto.
Na Lunda Norte, os jornalistas dos diferentes órgãos de comunicação social pediram, no Dundo, a intervenção do Executivo, com vista ao esclarecimento dos assaltos à sede nacional do Sindicato e residências dos profissionais da classe.
Ao intervir na marcha de protesto, André Deque, secretário provincial da organização, defendeu que o Estado deve fazer recurso a todos os meios à disposição para garantir a segurança dos profissionais de comunicação social e da Liberdade de Imprensa.
André Deque disse que, além da sede nacional em Luanda, o secretariado provincial do SJA na Lunda-Norte, no mês de Agosto do corrente ano, sofreu um assalto e roubaram um computador em que estão armazenados todos os documentos oficiais.
O episódio, de acordo com o secretário, ainda não foi esclarecido pelas autoridades do Serviço de Investigação Criminal (SIC), considerando que a par da ameaça à liberdade de imprensa, os jornalistas temem, também, a falta de segurança à sua integridade física e das respectivas famílias.
André Deque lembrou que a liberdade de imprensa é um pressuposto da existência do jornalismo, cujo exercício tem sido fundamental para o fortalecimento da Democracia em Angola.
A falta de um representante oficial do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA) na província do Cuando Cubango contribuiu negativamente para que os profissionais da classe não saíssem à rua para marchar em defesa da liberdade de imprensa. Alberto Kalupia, jornalista da Agência Angola Press (Angop) no Cuando Cubango, disse que a província está há cerca de cinco anos sem nenhum representante do SJA, e, por este facto, os jornalistas não foram mobilizados.
Sublinhou que, apesar desta situação, os jornalistas no Cuando Cubango estão solidários com o repúdio aos sucessivos ataques à sede do SJA e a falta de reconhecimento da classe. "Num país democrático, e numa altura em que Angola caminha para este processo crucial da democratização, é importante que todas as instituições exerçam e reivindiquem os seus legítimos direitos, de forma pacífica e urbana”, disse. Alberto Kalupia defendeu que deve haver um caminho salutar para a melhoria da actividade profissional da classe, porque se assim não acontecer, será beliscada a informação com pluralidade, isenção, objectividade, imparcialidade e a liberdade de informação e de expressão consagradas na Constituição da República. Destacou que é preciso que haja o devido reconhecimento da actividade jornalística em Angola.
No Zaire, a classe jornalística, em particular os sedeados no município do Soyo, também marchou, ontem, em repúdio à onda de ameaças e assaltos à sede do Sindicato dos Jornalistas Angolano.
A nível de Mbanza Kongo, apesar de não ter havido marcha, os jornalistas mostraram total apoio às acções de repúdio contra alguns actos que consideram lesivos à liberdade de imprensa no país. O operador de câmara da Televisão Pública de Angola, destacado na província do Zaire, Sebastião Oliveira sublinhou que, sem respeito ao princípio da liberdade de imprensa, os jornalistas ficam vulneráveis a ameaças e intimidações, por essa razão, justifica-se a marcha para demonstrar à sociedade que a classe, apenas, deseja fazer o seu trabalho, como consagra a Constituição da República de Angola. "Em relação à província do Zaire, temos trabalhado sem percalços, fora daqueles constrangimentos estruturais que vão, com certeza, ser ultrapassados pelas empresas públicas e privadas de Comunicação Social”, disse. Por sua vez, o jornalista da Rádio Nacional de Angola (RNA) no Zaire, Ngonga Francisco frisou que o país testemunhou, ontem, a primeira marcha de jornalistas em defesa da liberdade de imprensa, uma acção para a qual toda classe está solidária.
"Temos vindo a receber também a solidariedade de outras franjas da sociedade, o que é muito importante”, disse. Temos o direito, consagrado pela Constituição, de informar os cidadãos sobre os factos sociais relevantes, para tal é importante que tenhamos liberdade para o fazer. Por esta razão, é justa a realização desta marcha, apesar de que, em Mbanza Kongo, em particular, por razões alheias à nossa vontade, apenas reflectimos sobre o evento, mas de uma forma ou de outra, estamos todos solidários.
Fonte: Jornal de Angola.