Pastor José Julino Kalupeteka e a Tragédia do Monte Sumi


Pastor José Julino Kalupeteka e a Tragédia do Monte Sumi

O Pastor José Julino Kalupeteka, natural da província do Huambo, é uma das figuras mais controversas da história recente de Angola, sobretudo devido ao episódio que ficou conhecido como a “Tragédia do Monte Sumi”.

Inicialmente membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Kalupeteka rompeu com a instituição e fundou a sua própria seita religiosa chamada “A Luz do Mundo”, que conquistou seguidores em várias províncias do país, sobretudo no Huambo, Huíla e Bié. A sua doutrina defendia uma interpretação radical da Bíblia, pregando o abandono da vida moderna, a espera imediata pelo fim do mundo e o afastamento da autoridade estatal.

O Monte Sumi, situado no município da Caála, província do Huambo, foi escolhido como centro espiritual do movimento. Ali, os seguidores viviam em comunidade, afastando-se das suas casas, empregos e escolas, numa espécie de retiro espiritual à espera da segunda vinda de Cristo. A crescente adesão ao movimento chamou atenção das autoridades, sobretudo porque os fiéis eram acusados de recusar o recenseamento eleitoral e de promover isolamento social.

O Confronto – Abril de 2015

No dia 16 de abril de 2015, forças policiais deslocaram-se ao Monte Sumi para deter Kalupeteka, acusado de desobediência e incitação à desordem pública. O que era para ser uma simples operação policial transformou-se numa tragédia nacional.

Segundo dados oficiais, morreram 9 polícias e 13 civis. Porém, organizações de direitos humanos, como a Amnistia Internacional, afirmaram que o número real de mortos poderia ser muito maior, chegando a centenas de vítimas — embora nunca tenha havido uma contagem independente.

Kalupeteka foi detido e, em 2016, o Tribunal Provincial do Huambo condenou-o a 28 anos de prisão pelos crimes de homicídio qualificado, tentativa de homicídio e resistência às autoridades.

O caso dividiu a sociedade:

Para uns, Kalupeteka foi um fanático religioso que manipulou os seus seguidores.

Para outros, tornou-se um perseguido político e religioso, vítima de repressão estatal desproporcional.

Até hoje, a Tragédia do Monte Sumi continua envolta em polémica. Familiares das vítimas exigem justiça e investigações independentes. A seita “A Luz do Mundo” perdeu força, mas ainda existem simpatizantes que recordam o seu líder espiritual. Kalupeteka cumpre atualmente a sua pena, mas a sua história permanece como um dos episódios mais marcantes e debatidos da relação entre religião, Estado e direitos humanos em Angola.

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